quarta-feira, maio 9

Quando o amor explode

Hoje eu acordei querendo ter notícias suas. Fechar os olhos e relembrar seu cheiro. Depois de tantos anos e desencontros você continua dentro de mim. É estranho saber que o meu silêncio constrangido durante as suas acusações de descaso não delatou minha inocência. Sua voz ansiosa por meu aconchego ainda está na minha mente. Como eu posso te explicar que uma sucessão de coisas pequenas impediu o nosso sonho? Não foi covardia, não foi um outro amor... Só posso culpar o maldito acaso que mais uma vez me levou para longe de você.

Eu sei que você não vai ler esse desabafo. Mas hoje eu levantei da cama convicta de que amo você. Só você. Sempre você. Meu amor primeiro, meu príncipe encantado do mundo cor de rosa e azul claro.

terça-feira, abril 10

A volta

E ele voltou. Olhar constrangido e sorriso ansioso no rosto. Não tocou a campainha. Parou em frente a porta, respirou fundo e usou a sua antiga chave. Olhou nostálgico para a mulher que descobriu ainda amar e ensaiou em voz alta um pedido de desculpas, seguido de uma declaração rabiscada de amor.

E ela sentou. Suas pernas não agüentaram tamanha surpresa. Na sua mente, um turbilhão de emoção. Seu olhar era de espanto, não havia nenhum traço de paixão. Respirou pausadamente e fitou o homem que tanto amou. Ouviu as desculpas, a declaração de amor e mesmo atordoada conseguiu meigamente sorrir. Não guardava mágoa ou rancor, já não tinha vívida na memória as semanas de desespero. Ela simplesmente não se importava mais.

Em respeito a tudo que viveram ela levantou, o abraçou e acalentou, e isso foi muito mais do que ele foi capaz de fazer quando a deixou. Sentiu ainda um vago aroma de canela, mas isso não a perturbou. Tomado pela emoção ele a apertou e infantilmente chorou. Ali, aninhado nela, novamente sentiu uma felicidade extasiante, tinha a ingênua impressão que tudo voltaria a ser como antes. Ela então se afastou e o observou, não precisou dizer nada, os sentimentos dela estavam estampados no rosto. Incrédulo, ele estancou seu pranto e desesperado novamente saiu pela porta. Ela continuou estática e séria, acompanhou os passos dele com o olhar até sumir de vista. Sentiu um enorme pesar por ele, mas assim era a vida real e ela não mais o amava, finalmente estava liberta.

A partida

E ele se foi. Com uma embalagem quase vazia de Mentos sabor canela saindo de um bolso da calça e um sorriso sem graça no rosto. Não ousou olhar para trás e ver a mulher que deixou despedaçada. Foi melhor assim - para ele - pois não gostaria de ver no rosto, que um dia amou, aquela expressão quase demente de mulher desesperada.

E ela ficou. Encolhida em um canto da sala que agora parecia tão grande. Tentando levantar e continuar a vida, enquanto fitava as costas do homem que tanto amava. Seu olhar perdido nutria ainda uma tênue esperança de que ele voltaria e a beijaria. Um beijo com gosto de canela.

Mas isso é a vida real, ele não voltou. Ele friamente fechou a porta e partiu.

quarta-feira, fevereiro 28

Quarta-feira de cinzas e decepção

Saber que ele tem outra tirou meu chão. Não sou suficientemente ingênua para achar que ele ficaria sozinho para sempre. Mas achava que ele esperaria ao menos o cheiro do meu perfume sair das suas roupas. Um amor tão intenso não deveria terminar rapidamente assim, sem deixar seqüelas. Eu queria vê-lo louco de amor por aí. Chorando os nossos sonhos despedaçados e venerando um impossível final feliz.

No entanto, depois da minha reclusão praiana, tive a surpresa colossal: ele já está com outra. Mesmo tendo me garantido que não tinha ninguém. Lembro nitidamente da voz que pareceu tão sincera ao me dizer que eu deduzia as coisas de forma errada sempre. Eu acreditei porque queria desesperadamente acreditar. Agora estou neste torpor. Uma sensação esquisita que eu já deveria saber lidar. Mas não sei. Fico me arrastando pela casa, ouvindo uma música melancólica. Dor de cotovelo é sempre brega e eu sou exagerada e descontrolada.

sábado, fevereiro 17

Namorado bom é namorado sem amigos

- Oi, meu amor – diz ele abraçando-a.
- Oi – respondeu secamente a mulher de coque.
- Você gostou do Augusto? – puxou assunto, notando que ela não estava muito bem-humorada.
- Odiei, esse Augusto é um saco.
- Por que, minha vida?
- Daniel, ele não gosta de serigüela, como alguém pode não gostar de serigüela?
- Meu amor, isso não é motivo para não gostar do Augusto.
- Mas não é só por isso. O Augusto tem cabelo oleoso. Ele veio à praia de botas, quem usa botas na praia?
- Ué, o Augusto. Isso não faz dele um homem mau. Não seja radical, querida.
- Ele também não tirou o prato da mesa e palitou os dentes. Não gostei do Augusto, querido. Não quero que você seja amigo dele.
- Meu bem, você está agindo como criança, nada disso é motivo para eu deixar de ser amigo do Augusto – falou com toda paciência.
- Então eu vou logo dizer que o Augusto deu em cima de mim.
- O quê? Vou matar o filho da puta do Augusto agora – saiu exasperado e batendo a porta com força.

segunda-feira, outubro 23

Uma breve explicação para algo inexplicável

Eu não estou te deixando porque deixei de te amar. Estou te deixando porque descobri que amo mais você do que a mim mesma. Eu desconfiei do meu amor exagerado quando o seu aniversário passou a ser a minha senha do banco e eu gastei meus últimos cinco reais do mês para te comprar um Toblerone.

Eu não evito dizer que te amo por não te amar. Pela primeira vez o eu te amo é muito sincero e visceralmente real. Um eu te amo que vem da alma, salta dos olhos mas inexplicavelmente me emudece e paralisa.

Eu não vou sair por esta porta sem olhar para trás por não me importar. Eu vou seguir em frente sem me voltar porque eu sei que não suportarei continuar meu intento se te olhar nos olhos novamente.

Meu egoísmo não me permite amar alguém mais do que a mim e a minha covardia me manda ir embora.

terça-feira, agosto 29

Correntes de ar

Soa o vento
O vento da discórdia e destruição
Trazendo mensagens que apavoram
E sons de medo e desespero

Não há saída
Desapareceu a esperança
Tudo está acabando
A luz apagou

sexta-feira, agosto 18

Para você saber

Este é apenas um lembrete para você saber que:

- eu adoro o seu jeito de me olhar confuso quando eu falo coisas exageradas;
- comove-me o seu afago na minha mão nas cenas emocionantes dos filmes que assistimos juntos;
- até hoje eu sinto arrepios ao lembrar do seu beijo no meio das minhas costas molhadas;
- amo a sua forma de me amar intensamente, como se eu fosse a mulher mais maravilhosa do mundo;
- eu senti um pouco da minha vida se esvair a cada vez que você zangado foi embora, na ânsia de achar que você não ia voltar;
- e, principalmente, que eu não sei mais viver sem você.

sábado, julho 29

A mulher maravilhosa e coisas de mulher

Eu nunca imaginei que existisse uma mulher maravilhosa. Nos meus tempos de criança fui até meio fã da mulher maravilha. Mas nunca pensei muito seriamente no fato de existir ou não uma mulher maravilhosa. Dia desses ouvi falar de uma. Acho que é um exemplar meio raro nos dias de hoje. Mas o que realmente importa foi a ocasião em que ouvi o tal termo.
Como vocês bem sabem, sempre fui instável. Nunca amei muito, mas andei gostando de alguns por aí. Coisas de mulher volúvel. Até uns meses atrás, quando passei a gostar muito de um, apaixonei-me, amei, sei lá, nunca soube usar bem as definições. E esse um, especificamente, me fez sonhar. Andei bem ocupada, construindo os nossos castelos, e muito mais ocupada ainda em dissimular os castelinhos de sonhos. Coisas de mulher insegura. Mas, paradoxalmente, tinha uma certeza, infantil e absoluta, de que tudo daria certo. Esperei muito para amar e tinha que ser amada da mesma forma. Porque sentimentos verdadeiros têm de ser recíprocos. Coisas de mulher ingênua.
Como ia dizendo, o tempo foi passando. Combinamos algo diferente e completamente inusitado para mim. Teríamos um mês só nosso. Um mês de sonho, quando nos conheceríamos melhor, nos divertiríamos, nos surpreenderíamos e nos amaríamos. Um mês do mais puro idílio amoroso. E, por mais que a minha boca dissesse:
- Não insista. Será um mês único, quando acabar você volta a sua vida normal, e eu também. Não se apegue a mim porque nunca mais nos veremos. Será o nosso doce abril. Uma lembrança para toda a vida.
Eu queria mesmo dizer:
- Será o primeiro mês do resto de nossas vidas. Depois de abril, nada será como antes, porque nossas vidas irão mudar total e completamente. Pertencemos-nos e nunca vamos nos separar.
Coisas de mulher medrosa. Eu acreditei que minha mensagem oculta era percebida. Guardei meus desejos. Porque para mim eram óbvios. Tão evidente no meu olhar ansioso. Na minha forma de querer que tudo saísse perfeito. Afinal, quem depois de me ter por um mês inteiro poderia permitir que eu fosse embora? Quem poderia recusar o meu amor? Coisas de mulher confiante. Mas, então, a realidade me abateu de uma forma assustadora. Em um telefonema frio e meio sem nexo. Em um diálogo insano que vou tentar resumir agora, mesmo sabendo que nunca conseguirei ser fiel.
Coisas de mulher transtornada.
- Com quem você estava no telefone há pouco tempo?
- Com a Xan.
- Xan? Quem é a Xan?
- Ah! É uma amiga minha. Uma ex-namoradinha. Fazia um tempão que não a via, mas a reencontrei em um dia desses.
- Sei. E o que sua ex-namoradinha queria?
- Conversar, saber se estou bem, se a viagem foi boa, mas depois eu ligo para ela.
- Acho meio estranho isso de uma ex-namoradinha ligar, querendo saber de você – coisas de mulher ciumenta.
- Eu não acho, eu não ia te contar agora, não é importante, mas acho que vou contar logo.
- Conta...
- Eu e a Xan decidimos casar.
- O quê? Como assim, casar?
- A Xan é uma mulher muito boa, vai ser uma ótima mãe, é confiável. Preciso de alguém, e ela é a mulher ideal para mim.
- E eu? E nós dois?
- O que tem?
- Os nossos planos...
- Você sempre me disse que ia me deixar depois de abril. Eu só vou me casar daqui três anos e meio. Nada vai mudar para a gente. Estou ansioso que você venha em abril. Quero te beijar, te abraçar, passar a mão nos seus cabelos, fazer amor com você. Vai ser ótimo. Estou com saudades.
- Mas você vai casar com outra – voz trêmula, choro contido – você ficou noivo, sem eu nem saber, de alguém que você reencontrou em um dia desses.
- Já disse, eu quero muito que você venha porque gosto muito de você. Você sempre me disse que ia embora, queria o quê? Que eu não casasse nunca?
- Não sei o que dizer – disse chorando muito.
- Queria que você parasse de chorar. Você pode tentar mudar minha decisão. Pode lutar por mim. Venha para cá e não desista. Você está levando muito a sério o que eu disse sobre a Xan.
- Eu não vou mais – rebati chorando descontroladamente – não quero me envolver com alguém que vai casar.
- Mas eu não casei ainda. Você sempre me disse que ia casar com outro depois de abril. Tinha até uma lista de pretendentes. Que ia embora. Eu ainda não casei.
- Mas vai casar. Não quero estragar nada – gritei chorando descontroladamente e com as mãos tremendo – como ela é?
- Ela é loira, baixinha, tem olhos azuis. É linda. Uma mulher maravilhosa.
- Eu vou desligar. Boa sorte. Não consigo ficar feliz por vocês agora. Estou magoada. Mas um dia vou superar – sussurrei chorando descontroladamente, com as mãos tremendo e a cabeça latejando – quer me dizer mais alguma coisa?
- Nunca esqueça que eu gosto muito de você, quero que você venha, quero você e o nosso abril. Você vem?

Desliguei o telefone, caí na cama e chorei copiosamente por 2 ou 3 horas. Pensando no homem que eu tanto amei e na mulher maravilhosa que seria dele. Coisas de mulher desesperada. Avaliando que em nenhum momento o amor influenciou a decisão do casamento dele. Um casamento feito com a razão. Pelo menos um certo alento para mim. Porque sei que ele não terá com mais ninguém a paixão que teria comigo. Coisas de mulher vingativa. Só parei de chorar quando o telefone tocou. Atendi e ouvi uma voz macia. Alguém que eu rejeitei para ficar com o homem que, por telefone, me despedaçou. Alguém que nunca me deixaria, suficientemente ingênuo para me achar muito mais maravilhosa do que a Xan. Respirei, sentei, sorri e tentei aproveitar cada segundo da nossa conversa. Que começou terna, carinhosa, reconfortante. Mas, mesmo assim, comecei a chorar. Lembrando da cena da manhã, do meu amor arrasado e da mulher maravilhosa. Ele não entendeu. Expliquei tudo, e ele furioso me perguntou:
- Que tipo de canalha diria uma coisa dessas a você? Sabe o que isso significa? Que a vida decidiu por nós. Você será minha. A minha mulher maravilhosa. Nem precisamos decidir. Ele te colocou em meus braços. Tudo dará certo. Estou tão feliz que poderia gritar. Posso te pedir algo, meu amor?
- Pode moço.
- Hum, adorei a segunda palavra.
- Moço?
- Foi moço? Entendi amor...
- Foi moço, desculpe.
- Não tem problema, eu espero você sentir isso para me chamar. Agora você é minha. E quero que você repita algo.
- O quê?
- O seu novo nome?
- O meu novo nome?
- Sim. Cristina Brandão Paiva Hiemer.
- Não.
- Não?
- Não vou me chamar assim, vou tirar o Paiva, vou ser Cristina Brandão Hiemer.

Coisas de mulher sonhadora. Que nunca teve a pretensão de ser maravilhosa, mas que agora sonha em ser mesmo maravilhosa para alguém.

sábado, junho 17

Amar ou não amar?

Por que essa mania de tornar racional o ato de amar? É um tal de pensar e repensar relações, sentimentos e atos. É uma perda de tempo. É uma perda de alegrias perturbadoras e inconstantes. Ninguém nunca saberá se um amor será eterno ou se uma relação dará certo, então o que precisamos fazer é simplesmente nos entregar.

Não espere um segundo para declarar seu amor. Derrube as cercas das opiniões alheias e grite ao mundo o seu amor. Não se incomode em ser flagrado olhando, gostando, admirando, amando... Fomos feitos para amar e um amor de uma dia é melhor do que uma vida sem sofrimentos por anos. O desalento pós-amor é superado pelas lembranças de dias maravilhosos. Ninguém se arrepende de amar, as pessoas se lamentam por não ter amado.

terça-feira, junho 6

Rimas falhas para os gostos e desgostos de uma quase adulta mulher

Eu gosto de:

- cheiro de terra molhada;
- cocada de colher;
- beijo nas costas;
- e abraçar quem muito me gosta.

Eu não gosto de:

- gente que fala gritando;
- cheiro de cebola crua;
- ficar sozinha no escuro;
- e que falem da minha mania de dormir nua.

Eu amo:

- mergulhar no mar;
- sorrir no meio da rua;
- ouvir músicas antigas;
- chorar abraçada;
- ver filmes deitada;
- me sentir protegida e amada.

Eu odeio:

- ser gritada;
- incompreendida;
- mal amada;
- ser acordada;
- chorar sozinha na madrugada;
- ouvir sempre a mesma piada.

Eu espero:

- ter um grande amor;
- ver muitos filmes no cinema;
- beijos com gosto de Mentos de canela;
- ouvir uma serenata na janela.

Eu abomino:

- a impaciência alheia;
- ouvir sempre as mesmas baboseiras;
- sorrisos falsos;
- queimar meus pés no asfalto.

domingo, maio 28

Sobre a difícil arte de se relacionar

Nunca me senti tão cruel quanto hoje. Olhei nos olhos do homem que esteve ao meu lado nas últimas cinco semanas e pedi a ele um tempo. Sinto meus pêlos dos braços arrepiados enquanto escrevo isso, sabendo que ele provavelmente vai ler. Não sei como ser menos dura. Eu nunca soube terminar relações. Sempre achei que era só parecer fria e distante e elas terminavam sozinhas. Mas não foi assim. Ele me cobrou explicações, me disse que precisava ouvir meus frágeis argumentos pessoalmente. Olhos nos olhos. E eu tremi. Engasguei. E não soube dizer muito claramente que o problema sou eu. Que eu não estou pronta pra me relacionar com alguém como ele, que eu preciso de um tempo pra colocar a minha vida nos eixos e repensar os meus objetivos.

Não consigo dormir, não consigo parar de pensar no olhar de pesar que ele tinha. É mais uma pessoa que eu decepcionei, mais uma pessoa que eu perdi. Posso ter mandado embora a minha alma gêmea, o amor da minha vida e essa dúvida vai se perpetuar. Mas não dava mais para continuar, não seria legal para ele. Todas as não-afinidades que no começo pareciam me atrair ainda mais, foram nos separando com o tempo. Eu já não via mais nele o olhar de admiração que tanto encantava meu ego.

Agora, precisamos seguir em frente, os dois. A felicidade nos espera em algum lugar e eu estou torcendo por ele, acho até que mais do que por mim mesma.

quarta-feira, maio 17

Querido Amor Perdido,

Estou escrevendo para te dizer que estou com saudades. Sonhei com você e meu coração doeu. Dor de amor é sempre mais doída e eu não consegui mais dormir. Percebi tardiamente que amar você fazia minha vida mais fácil. Com você não tinha joguinhos ou adivinhações. Você era simples e sempre dizia o que pensava, não eram enigmas de uma paixão doentia. Amor Perdido, você me amava despenteada, mal-humorada e com coriza. E eu tenho que te confessar que nunca mais encontrei alguém que me amasse assim. Você nunca fingia e não me deixava sofrer por antecipação ou por não saber seus pensamentos. Não hesitava antes de falar e era sempre sincero e autêntico. A única coisa não clara em você eram seus olhos, que passeavam entre o azul e o verde. Ah, seus olhos, os verdes olhos que já foram meus.

Saudades de você, meu Amor Perdido, dos nossos planos apaixonados e dos seus telefonemas no meio da noite. Saudades das reconciliações e dos beijos molhados nas minhas costas. Saudades de beber vodka ao som do Nirvana e de comer Chambinho de mel assistindo sempre os mesmos filmes. Saudades de você me olhando torto e de cenho franzido quando eu teimava em ir embora mais cedo. Enfim, saudades de você, meu Amor Perdido... E eterno.

segunda-feira, abril 24

Era uma vez a Mariana

Rimas a parte, a Mariana era uma menina bacana, que amava ser o centro das atenções. Gostava de se sentir amada e requisitada, e achava que o mundo se curvava ao seu sorriso.

Essa era a Mariana, que idolatrava músicas melancólicas, desde que tivessem batidas suaves.
Sentia um prazer intenso quando ouvia declarações de amor, desde que fossem de madrugada.
Adorava dormir abraçada, desde que fosse em dias de chuva.

A Mariana tinha um estranho fascínio de se ver chorando, corria em direção a um espelho sempre que ia chorar, curtia ver seus olhos lacrimejando e ficando vermelhos, as lágrimas descendo quentes e lentas pelo seu rosto.

Essa ainda era a Mariana, que adorava discutir problemas, desde que não fossem os dela.
Ingenuamente torcia por finais felizes para relações amorosas, desde que não fossem as dela.
Amava comer bolo de chocolate, desde que fosse bebendo água.

Essa era a Mariana, com todas as suas manias e mórbidas imperfeições, mas ela não existe mais, se perdeu em algum lugar de um passado recente muito distante, ela até poderia ser considerada uma menina normal, não fosse a sua mania de colecionar corações partidos, desde, claro, que não fosse o dela.

sexta-feira, março 3

Despedida visceral

Ei, vem cá, senta pela última vez ao meu lado e ouça o que eu tenho a te dizer.
De todas as razões você escolheu a mais fútil para me deixar. Poderia ter escolhido o meu mau-humor matinal, a minha mania de usar Vick a noite ou até mesmo o tom da minha voz. Seria muito mais fácil aceitar um desses motivos. Eu hesitaria muito mais em te odiar. Mas não se surpreenda, esse ódio eu também sinto de mim mesma cada vez que me olho e vejo uma mulher desesperada. Olhos tristes e sorrisos sem graça são agora comuns no meu espelho.

Não, não vire o rosto, não se envergonhe com sua futilidade, ainda tenho muito que falar.
Estou tão magoada que não lembro de nada bom. Nossa relação que começou como um sonho e que seria pra sempre, acabou em emaranhadas recordações horrorosas. As lembranças que me tomam a mente e maltratam meu coração só mostram uma menina ansiosa por amar e um homem frio que não soube perceber e merecer o amor dela. Amor sem limites, daqueles que se grita, chora, entrega; amor quase doentio, tomado pela paixão cega e perversa.

Pode chorar, eu também acho que você nunca mais será amado tão intensamente.
Queria voltar no tempo e te mandar embora do meu quarto em todas aquelas noites em que eu entorpecida pela morfina, me segurava para não dormir e ficar em sua companhia. Preocupada em não bocejar porque isso te irritava. Queria te mandar embora quando a dor apertava e eu sorria, ansiosa por um beijo, um carinho, um afago. Eu deveria ter te mandado embora de todos os meus sonhos, meus desejos, meus anseios. São tantas coisas que eu deveria ter feito. Quase não sobra espaço para me martirizar com o que eu não deveria ter feito: como os sorrisos que eu dei te observando tomar banho na penumbra; o seu leve tocar no meu rosto enquanto me olhava; as mordidas nos seus ombros e falar chorando baixinho eu te amo.

O que é isso? Que falsa surpresa é essa? Você sempre soube a intensidade do meu sentimento.
Mas você tem razão, não vou lembrar disso, o trato é não conseguir lembrar das coisas boas, meu ódio de mulher largada prefere ser alimentado com o meu choro na parte baixa do quarto do motel. Enquanto você dormia satisfeito e eu chorava pela sua falta de sensibilidade com o meu prazer e sua impaciência com os meus pudores quase juvenis. Ou do dia em que eu fugi de casa ainda muito doente, fingindo ir fazer exame de sangue e te vi com outra. Eram beijos e abraços tão ternos. Você tratava aquela mulher de uma noite como nunca tratou a mim, que um dia você quis que fosse a mãe dos seus filhos.

Agora você pode levantar e ir, mas não olhe para trás, não quero que você me veja despedaçada.
O mundo agora parece ter acabado, não consigo sorrir e nem respirar sem sentir um peso no peito. Minha cabeça está confusa com os passados recente e distante, mas eu vou melhorar. O mundo está apenas começando, ele não pode acabar antes que eu seja plenamente feliz.

Adeus.

quarta-feira, março 1

Desabafo de uma mulher liberta

De repente seu mundo desaba, enquanto você assiste impotente e imóvel todos os seus muros ruírem. Você sempre foi exemplo de força, levou anos pra construir os muros fortes que estabilizavam suas emoções. Então, você não sabe pedir ajuda e hesita em demonstrar fragilidade. No exato momento em que você começa a recolher pedaços de sonhos do chão, a realidade bate a sua porta, gritando que contos de fadas não existem. E lá se vai o mundo cor de rosa e azul claro em que você acreditou. No mundo real as cores são mais fortes e chegam a doer nos olhos. Franzindo o cenho e protegendo os olhos com as mãos você ainda consegue visualizar um vulto ao longe. Está cada vez mais distante. O vulto se afasta lenta, mas progressivamente, levando consigo sonhos e planos despedaçados. O alento é que ele leva também uma boa dose de egoísmo e a incapacidade de ter bravamente te protegido e ficado incondicionalmente ao seu lado.

terça-feira, fevereiro 28

Ausência

Hoje não sou eu
Mas sou eu mesma
Aquela do início e do final
Hoje sua ausência dói mais forte
É quase palpável
Está no ar e no meu melancólico olhar

Você está sempre comigo
Mas hoje é diferente
Eu preciso ver você
Para dizer que te amo
Sinto muito
E ouvir mais uma vez a sua risada

Tenho que sentir o seu aconchego
E desafiar o mundo sabendo que você
Está ao meu lado
Necessito dessa certeza
Afinal você sempre foi o meu abrigo
Mesmo eu não conseguindo ser o seu.