terça-feira, abril 10

A volta

E ele voltou. Olhar constrangido e sorriso ansioso no rosto. Não tocou a campainha. Parou em frente a porta, respirou fundo e usou a sua antiga chave. Olhou nostálgico para a mulher que descobriu ainda amar e ensaiou em voz alta um pedido de desculpas, seguido de uma declaração rabiscada de amor.

E ela sentou. Suas pernas não agüentaram tamanha surpresa. Na sua mente, um turbilhão de emoção. Seu olhar era de espanto, não havia nenhum traço de paixão. Respirou pausadamente e fitou o homem que tanto amou. Ouviu as desculpas, a declaração de amor e mesmo atordoada conseguiu meigamente sorrir. Não guardava mágoa ou rancor, já não tinha vívida na memória as semanas de desespero. Ela simplesmente não se importava mais.

Em respeito a tudo que viveram ela levantou, o abraçou e acalentou, e isso foi muito mais do que ele foi capaz de fazer quando a deixou. Sentiu ainda um vago aroma de canela, mas isso não a perturbou. Tomado pela emoção ele a apertou e infantilmente chorou. Ali, aninhado nela, novamente sentiu uma felicidade extasiante, tinha a ingênua impressão que tudo voltaria a ser como antes. Ela então se afastou e o observou, não precisou dizer nada, os sentimentos dela estavam estampados no rosto. Incrédulo, ele estancou seu pranto e desesperado novamente saiu pela porta. Ela continuou estática e séria, acompanhou os passos dele com o olhar até sumir de vista. Sentiu um enorme pesar por ele, mas assim era a vida real e ela não mais o amava, finalmente estava liberta.

A partida

E ele se foi. Com uma embalagem quase vazia de Mentos sabor canela saindo de um bolso da calça e um sorriso sem graça no rosto. Não ousou olhar para trás e ver a mulher que deixou despedaçada. Foi melhor assim - para ele - pois não gostaria de ver no rosto, que um dia amou, aquela expressão quase demente de mulher desesperada.

E ela ficou. Encolhida em um canto da sala que agora parecia tão grande. Tentando levantar e continuar a vida, enquanto fitava as costas do homem que tanto amava. Seu olhar perdido nutria ainda uma tênue esperança de que ele voltaria e a beijaria. Um beijo com gosto de canela.

Mas isso é a vida real, ele não voltou. Ele friamente fechou a porta e partiu.