quarta-feira, fevereiro 28

Quarta-feira de cinzas e decepção

Saber que ele tem outra tirou meu chão. Não sou suficientemente ingênua para achar que ele ficaria sozinho para sempre. Mas achava que ele esperaria ao menos o cheiro do meu perfume sair das suas roupas. Um amor tão intenso não deveria terminar rapidamente assim, sem deixar seqüelas. Eu queria vê-lo louco de amor por aí. Chorando os nossos sonhos despedaçados e venerando um impossível final feliz.

No entanto, depois da minha reclusão praiana, tive a surpresa colossal: ele já está com outra. Mesmo tendo me garantido que não tinha ninguém. Lembro nitidamente da voz que pareceu tão sincera ao me dizer que eu deduzia as coisas de forma errada sempre. Eu acreditei porque queria desesperadamente acreditar. Agora estou neste torpor. Uma sensação esquisita que eu já deveria saber lidar. Mas não sei. Fico me arrastando pela casa, ouvindo uma música melancólica. Dor de cotovelo é sempre brega e eu sou exagerada e descontrolada.

sábado, fevereiro 17

Namorado bom é namorado sem amigos

- Oi, meu amor – diz ele abraçando-a.
- Oi – respondeu secamente a mulher de coque.
- Você gostou do Augusto? – puxou assunto, notando que ela não estava muito bem-humorada.
- Odiei, esse Augusto é um saco.
- Por que, minha vida?
- Daniel, ele não gosta de serigüela, como alguém pode não gostar de serigüela?
- Meu amor, isso não é motivo para não gostar do Augusto.
- Mas não é só por isso. O Augusto tem cabelo oleoso. Ele veio à praia de botas, quem usa botas na praia?
- Ué, o Augusto. Isso não faz dele um homem mau. Não seja radical, querida.
- Ele também não tirou o prato da mesa e palitou os dentes. Não gostei do Augusto, querido. Não quero que você seja amigo dele.
- Meu bem, você está agindo como criança, nada disso é motivo para eu deixar de ser amigo do Augusto – falou com toda paciência.
- Então eu vou logo dizer que o Augusto deu em cima de mim.
- O quê? Vou matar o filho da puta do Augusto agora – saiu exasperado e batendo a porta com força.